sexta-feira, 14 de outubro de 2011

a carta do Dex à Em

"Em, já nos conhecemos há cinco ou seis anos, mas mesmo bem só há dois anos, como "amigos", percebes?, o que não é assim tanto tempo, mas acho que te conheço um pouco e acho que sei qual é o teu problema. (...) Acho que tens medo de ser feliz, Emma. Acho que tu achas que a progressão natural das coisas é a tua vida ser austera e cinzenta e sombria e tu odiares o teu trabalho, odiares o sitio onde vives, não teres sucesso nem dinheiro, nem, Deus proíba, um namorado ( e aqui uma breve discersão - essa autodepreciação toda em relação a não seres atraente começa a fartar um bocado, isso posso eu dizer-te). Na verdade, irei ainda mais longe e direi que acho que, de facto, sentes prazer na desilusão e no insucesso, porque é mais fácil, não é? O fracasso e a infelicidade são mais fáceis porque servem para contares como anedota. Estás a ficar irritada com isto? Aposto que sim. pois bem, estou apenas a começar.
(...)
Não sei, Em, tu és jovem, és praticamente um génio, e no entanto, a tua ideia de passar um bom bocado é mimares-te com uma lavagem automática. Pois eu acho que mereces mais. És esperta e divertida e bondosa (demasiado bondosa, na minha opinião) e de longe a pessoa mais esperta que eu conheço. E (agora estou a beber mais cerveja...e a inspirar fundo) também és uma Mulher Muito Atraente. E (mais cerveja), sim, também quero dizer sexy, embora sinta um bocado perverso ao escreve-lo. (...) És deslumbrante, minha bruxa velha, e se eu te pudesse oferecer uma única coisa para o resto da tua vida, seria isto: Confiança. Seria a dádiva da Confiança. Ou isso, ou uma vela perfumada.
Pelas tuas cartas e por te ter visto depois da tua peça, sei que, de momento, te sentes um bocadinho perdida em relação ao que fazeres com a tua vida, um bocado sem remos nem leme nem rumo, mas quanto a isso, tudo OK, tudo bem, porque é assim que deve ser quando se tem vinte e quatro anos. De facto, toda a nossa geração é assim. (...) É certo que não tenho nenhum plano genial, sei que julgas que tenho tudo resolvidinho, mas não tenho, também ando preocupado, só não me preocupo com o subsidio de desemprego e o subsidio de arrendamento e o futuro do Partido Trabalhista e onde é que vou estar daqui a vinte anos e como é que o Sr. Mandela se estará a adaptar à liberdade."
 Um Dia, David Nicholls

este post também se poderia chamar de "As sms entre o P. e eu". sinto toda uma grande familiaridade com este pedacinho de texto que acabei de ler ontem, vá-se lá saber porquê, não é P.?

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