segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Eu amo tudo o que foi
Tudo o que já não é
A dor que já não me dói
A antiga e errônea fé
O ontem que a dor deixou
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia.



Fernando Pessoa

sábado, 29 de dezembro de 2007

Homens

(Os que nos cativam)

Geralmente é mais físico. Nem precisam de ser bonitos, basta sentir aquela vontade de meter a mão na mão dele, de cheirar o pescoço, de ouvir falar sobre seja o que for. Inspiram confiança e ternura. Deixamo-nos ir ao sabor da maré. Não pensamos em mais nada, embora quando muito apaixonadas nos vem à cabeça que "quando cairmos em nós, vai doer". Costumam dar luta, fazendo com que estejamos sempre a perguntar o mesmo à espera de uma resposta que nos faça ficar acordadas a noite inteira. Nas alturas em que estamos a ser cativadas, perdemos a fome, não queremos saber da greve geral e dos ataques da ETA. A única preocupação é se ele vai reparar que o creme que metemos cheira a frutos silvestres. Eles não podem abrir o jogo, no principio têm de tirar e dar ao mesmo tempo para que possamos ficar tontas...e quando estamos suficientemente tontas eles seguram-nos e acalmam nos porque "estou aqui". E nós gostamos que eles estejam aí. Com eles, podemos tirar a capa de Mulher segura, desarmamos nos e mostramos a alma e a cara de manhã. Misturam admiração por nós com sabedoria de não abrir o jogo. Sabem que somos únicas mas não podemos saber com a certeza que o somos. Costuma acabar quando acaba. Sem grandes explicações...quando a mão não cabe na outra ou quando o cheiro a frutos silvestres deixa de ser o preferido. Sabem que somos especiais e sabem explicar o porquê

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Que importa?

Eu era a desdenhosa, a indiferente,

Nunca sentira em mim o coração

Bater em violência de paixão,

Como bate no peito à outra gente.

Agora, olhas-me tu altivamente,

Sem sombra de desejo ou de emoção,

Enquanto as asas loiras da ilusão

Abrem dentro de mim ao sol nascente.


Minh'alma, a pedra, transformou-se em fonte
;

Como nascida em carinhoso monte,

Toda ela é riso e é frescura e graça!

Nela refresca a boca um só instante...


Que importa?... Se o cansado viandante

Bebe em todas as fontes... quando passa?...


Florbela Espanca

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Ei!

Ei! Sorri... Mas não te escondas atrás desse sorriso...
Mostra aquilo que és, sem medo.
Existem pessoas que sonham com o teu sorriso, assim como eu.

Vive! Tenta! A vida não passa de uma tentativa.
Ei! Ama acima de tudo, ama tudo e a todos.

Não feches os olhos para a sujeira do mundo, não ignores a fome!
Esquece a bomba, mas antes, faz algo para combatê-la, mesmo que te sintas incapaz.

Procura o que há de bom em tudo e em todos.
Não faças dos defeitos uma distancia, e sim, uma aproximação.

Aceita! A vida, as pessoas, faz delas a tua razão de viver.
Entende! Entende as pessoas que pensam diferente de ti, não as reproves.

Ei! Olha... Olha à tua volta, quantos amigos...
Já fizeste alguém feliz hoje?
Ou fizeste alguém sofrer com o teu egoísmo?

Ei! Não corras. Para que tanta pressa? Corre apenas para dentro de ti.
Sonha! Mas não prejudiques ninguém e não transformes o teu sonho em fuga.

Acredita! Espera! Sempre haverá uma saída, sempre brilhará uma estrela.
Chora! Luta! Faz aquilo que gostas, sente o que há dentro de ti.

Ei! Ouve... Ouve o que as outras pessoas têm a dizer, é importante.
Sobe... faz dos obstáculos degraus para aquilo que tu achas supremo,
Mas não esqueças daqueles que não conseguem subir a escada da vida.

Ei! Descobre! Descobre aquilo que há de bom dentro de ti.
Procura acima de tudo ser gente, eu também vou tentar.


Ei! Tu... não vás embora.
Eu preciso dizer-te que... te adoro, simplesmente porque tu existes.

Charlie Chaplin